A igreja fica um cantinho escondido de Minas Gerais. Chama-se Desemboque, perto de Uberaba (MG). A vila já teve cara de cidade, com seminário e cadeia,mas, hoje, a mesma rua vai e volta. Sobraram apenas 50 moradores.
Eles dizem que um padre namorador trabalhava na igrejinha. Na época, era comum ter um cemitério bem na porta. Ninguém estranhava. Duzentos e cinquenta anos depois, como ninguém se atreve a mexer no projeto original, a dupla cemitério-capela continua.
Ninguém sabe dizer quantas pessoas já foram enterradas em Desemboque, mas, para chegar até o altar, os noivos teriam que passar por pelo menos 20 túmulos.
O povo costuma dizer que as portas raramente se abrem para casamentos, porque não há infraestrutura na vila, como manicure, salão de beleza e outros caprichos que a mulherada adora. Mas, na verdade, muitos vizinhos têm medo de assombração. “Ali pelas oito, nove horas da noite, eu não tenho coragem de ir lá embaixo”, diz uma senhora.
O locutor Wagner Luiz Montagner queria provar que não tem nada errado em casar nesta igreja. Chegou a convencer a noiva. Mas as famílias entraram no meio. “A sogra falou que não podia e a mãe também disse que o casamento não ia dar certo”, conta.
Contrariando todos os temores, Josabel Rosa de Araújo está há quase 40 anos com Leonidas. Foi um dos últimos casamentos do povoado. Ela lembra que, quando seguiu para a igreja, foi em frente, sem olhar para o lado. “Falei: ‘vou enfrentar’, a igreja estava linda.”